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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
As Fadas de Cottingley
Chegou a hora de desvendar os mistérios da internet! Um agradecimento especial pela sugestão da Nana em apoiar a ideia de por no blog um show de slides intitulado "Pérolas da Internet" onde você, internauta, possa também se entreter neste portal de curiosidades. Ela ainda salientou na sugestão que além de informação, o blog pode também apresentar seus momentos de descontração sem precisar ser ligado a mistérios da internet. Obrigado pela sugestão, já estou vendo onde encaixar esta seção no blog. Boas vindas também ao Tudy, o mais novo membro do Caçador de Mistérios! Segundo seu perfil, ele mora em Portugal, tem 13 anos e já é parte desta família caçadora de mistérios! Seja bem vindo e sinta-se em casa para opinar, sugerir e reclamar também! Vamos ao tema de hoje!
O nosso assunto de hoje é um pouco grande, mas necessário. Comentarei sobre um fato que aconteceu há muito tempo e com a força do boato, se tornou polêmico e foi até considerado verdade. Necessariamente não é um mistério de internet, mas ganhou as mesmas proporções na época e creio que ainda tem pessoas que acreditam na história. Vamos falar das Fadas de Cottingley! Entra em ação o Caçador de Mistérios!
Já falamos sobre um caso de aparição de fadas aqui no blog. Clique nas TAGs "Fada" ou "Fada Morta" na barra lateral para conferir. Mas acontece que em julho de 1918 – época da Primeira Guerra Mundial -, duas meninas em Cottingley, zona rural da Inglaterra, tiraram o que parecia ser a primeira fotografia de fadas autênticas. a foto, que é mostrada acima, foi tirada por Elsie Wright, de 16 anos de idade e mostrava sua prima, Frances Griffiths – 10 anos, sentada na floresta com diversas pessoas minúsculas e aladas voando à sua volta.
O motivo: Frances vivia se perdendo em brincadeiras nos fundos de sua casa e para explicar-se para sua mãe, contou que estava brincando com fadas. Logo sua família começou a caçoar da crença infantil da garota, e foi então que sua prima mais velha, Elsie Wright, resolveu provar a história de Frances. Elsie pegou uma câmera fotográfica emprestada e uma hora depois de se aventurar no vale de Cottingley as primas voltaram para casa com inacreditáveis fotos de fadas!
O pai de Elsie, que revelou o filme, não acreditava em fadas e disse isso às meninas, insinuando delicadamente que elas haviam montado a cena. Mas as meninas insistiram que tinham visto fadas na mata muitas vezes. Um mês depois tiraram uma outra foto, dessa vez de Elsie posando ao lado de um gnomo, como na foto acima.
O pai de Elsie continuou cético, mas a mãe dela falou a respeito da foto com amigas e outras pessoas interessadas pelo sobrenatural.
Alguns anos depois a senhora Wright, mãe de Elsie, envolveu-se com a Sociedade Teosófica, que dava credibilidade a fotos de espíritos e afins. Ao assistir uma palestra em que fadas foram discutidas, ela lembrou-se das fotos e as entregou ao palestrante que tratou de passá-las a Edward Gardner. Ele as tomou a sério, e pediu a ajuda de diversos especialistas. A partir daí a história se espalhou rapidamente, fazendo com que Edward Gardner pedisse ajuda a um dos escritores mais famosos da época - Sir Arthur Conan Doyle (foto acima), criador do célebre detetive Sherlock Holmes e do Professor Challenger, além de ser notável figura no espiritualismo da época. Doyle era um crédulo ingênuo em vários tipos de enganações, picaretagens e fraudes. Ele não só acreditou em todas as sessões espíritas forjadas na época, mas também acreditou nas fadas apresentadas.
Doyle se impressionou muito com as fotos e, mesmo sem ser um perito fotográfico, declarou-as autênticas. Muitos atribuem o grande sucesso das fotos à credibilidade apaixonada que Doyle lhes emprestou, falando sobre como elas provavam que existia um outro mundo espiritual.
Fascinado com a possibilidade de que as fadas fossem reais, Doyle e outras pessoas interessadas consultaram diversos outros especialistas a fim de verificar se as fotografias tinham sido forjadas. Embora alguns tenham comentado que os penteados das fadas pareciam estar absolutamente de acordo com a moda da época, ninguém conseguiu apresentar provas conclusivas de que fosse uma fraude.
Os defensores da autenticidade das imagens concediam que elas poderiam ter sido forjadas, mas deveria ter sido muito complicado e as garotas eram apenas… crianças. Enquanto isto, céticos notavam diversas discrepâncias e detalhes suspeitos, como o detalhe de que Elsie já havia trabalhado em um estúdio fotográfico durante a guerra e talvez pudesse ter forjado as imagens apesar da pouca idade.
Em dezembro de 1919, Doyle publicou um artigo na revista Strand Magazine, intitulado "Fadas Fotografadas - Um Acontecimento que Inaugura uma Nova Era", que provocou um imenso intusiasmo entre os crentes, assim como uma condenação brutal dos céticos. E em 1920 puseram mais lenha na fogueira, quando as meninas tiraram mais três fotografias de fadas.
As provas definitivas da fraude só surgiram mais de meio século depois. Em 1982, o perito fotográfico Geoffrey Crawley analisou o que se acreditavam ser as placas originais das fotografias. Sua conclusão foi simples e irrefutável: a câmera tipo "Midg" com que a primeira e mais famosa imagem, vista acima, teria sido tomada é incapaz de produzir uma fotografia tão nítida. A imagem que todos discutiram por décadas havia sido claramente retocada, e analisando a placa que se dizia ser a original, Crawley pôde indicar mesmo sinais claro de retoque, como a elipse que pode ser vista ao redor do rosto de Frances:
A discussão sobre a autenticidade das fadas de Cottingley prosseguiu feroz durante várias décadas. Por fim, na polêmica das críticas de Crawley, em março de 1983 Elsie e Frances, já idosas, admitiram que as fotos eram uma brincadeira. Fizeram as fadas de papel e usaram alfinetes de chapéu para fixá-las nos galhos das árvores ou no solo. Era de início apenas uma travessura a pregar nos adultos que estavam caçoando das histórias sobre fadas inventadas pela pequena Frances, mas a dimensão que a brincadeira tomou, com o envolvimento de figuras como Doyle, fez com que as garotas não tivessem escolha a não ser "permanecer caladas".
Frances lembrou-se de ter ficado chocada ao ver como algumas pessoas acreditavam nas suas histórias. Afinal, segundo ela, os alfinetes estavam bem visíveis em algumas fotos - mas, ainda assim, ninguém os notou.
Elsie e Frances comentaram o episódio no documentário de 1985, "Arthur C. Clarke’s World Of Strange Powers – Fairies, Phantoms and Fantastic Photographs", que você pode conferir abaixo:
Apesar da confissão, Frances insistiu que há mesmo fadas de verdade em Cottingley. Ou melhor, havia, "agora não há mais". Em 1997 o evento foi transformado em um filme de ficção, "Contos de Fadas: Uma história verdadeira", e em 2004 a fabricante de telefones celulares finlandesa Nokia contratou o fotógrafo inglês Rankin para criar imagens com o aparelho 7610 em homenagem ao evento. Com fadas de papel, claro (imagem abaixo):
Dezenas de fotos teriam sido tiradas pelas garotas, porém a maioria foi descartada por elas mesmas. Presumivelmente mostravam sinais de fraude ainda mais evidentes. Restam hoje apenas quatro além da mais famosa, onde vou mostrar a análise a seguir:
Frances e as Fadas. Foto tomada por Elsie. Máquina fotográfica Midg Quarter a 4 pés, 1/50 segundos; dia ensolarado.
Fotografia Nº 1: A fotografia acima, tirada em julho, mostrava Frances no jardim com uma cachoeira no plano de fundo e um arbusto no primeiro plano. Quatro fadas estão dançando no arbusto. Três têm asas e uma está tocando um instrumento longo parecido com uma flauta. Frances não está olhando para as fadas logo à frente dela, mas parece estar posando para a câmera. Embora a cachoeira esteja borrada, indicando uma velocidade de obturador lenta, as fadas, saltando no ar aparentemente, não estão borradas. Abaixo está um olhar mais detalhado a este quadro:
Fotografia Nº1 (detalhe): Esta fotografia e as quatro que se seguem foram providas pela Fundação Educacional James Randi (imagem do site abaixo). Estas estão enquadradas para mostrar os detalhes importantes claramente.
Fotografia Nº 2: Esta foto, tirada em setembro, mostra Elsie sentada no gramado estendendo sua mão a um gnomo amigável (em torno de um pé de altura com asas) que está pisando adiante sobre a larga bainha da saia dela.
Peritos fotográficos que foram consultados declararam que nenhum dos negativos tinha sido forjado, não havia nenhuma evidência de dupla exposição e que um borrão leve de uma das fadas na fotografia número 1 indicava que a fada estava se movendo durante a exposição de 1/50 ou 1/100 segundos. Eles pareciam não querer entender a explicação mais simples de que as fadas eram recortes de papel fixados nos arbustos, balançando ligeiramente com a brisa. Doyle e outros crentes também não estavam aborrecidos pelo fato de que as asas da fada nunca mostravam borrões de movimento, até mesmo na imagem da fada calmamente posada de pé em pleno ar. Aparentemente asas de fada não funcionam como as asas de um beija-flor.
Quase ninguém pode olhar para estas fotografias hoje e aceitá-las como qualquer coisa a não ser fraudes. A iluminação nas fadas não combina com a das meninas. As figuras das fadas têm uma aparência plana, de recorte. Mas espiritualistas e outros, que preferem um mundo de magia e fantasia, aceitaram as fotografias como evidência genuína para fadas.
Três anos depois, as meninas produziram mais três fotografias, que seguem abaixo:
Fotografia Nº 3: "Francis e a Fada Saltando" mostra um perfil ligeiramente borrado de Frances com a fada alada suspensa em pleno ar bem em frente ao nariz dela. O fundo e a fada NÃO estão borrados. Hmmm…
Fotografia Nº 4: A foto acima mostra uma fada de pé no ar oferecendo uma flor para Elsie. Que coisa mais amigável! Bem, de pé em um galho talvez, já que as imagens da fada estão a uma distância indeterminável da máquina fotográfica.
Fotografia Nº 5: "Fadas e seu Banho de sol" é a única que parece ter sido uma dupla exposição acidental ou deliberada. Sabe, aquelas fotos por acaso.
O mais estranho era que quando as pessoas interessadas procuravam combinar com as meninas para ver as fadas, elas diziam que não podiam fotografar as fadas se qualquer outra pessoa estivesse olhando! Que fadas mais orgulhosas! Ninguém mais poderia fotografar as fadas! Havia só uma testemunha independente, Geoffrey L. Hodson, um escritor Teosofista, que alegou ver as fadas e confirmou as observações das meninas em todos os detalhes.
Mas, vamos voltar à confusão e precipitação do criador de Sherlock Holmes. Arthur Conan Doyle não apenas aceitou estas fotografias como genuínas, ele até escreveu dois panfletos e um livro que atestavam a autenticidade destas fotografias, incluindo muito folclore de fadas adicional. O livro dele, "A Vinda das Fadas" (The Coming of the Fairies), ainda é publicado, e algumas pessoas ainda acreditam que as fotografias são autênticas. Espero que estas pessoas possam ler um dia este artigo no Caçador de Mistérios. Os livros de Doyle são leitura muito interessante até mesmo hoje, mas a convicção de Doyle no espiritualismo convenceu muitas pessoas de que o criador de Sherlock Holmes não era tão brilhante quanto sua criação fictícia. Alguns pensaram que Conan Doyle estava louco, mas ele defendeu a realidade de fadas com toda a evidência que pôde encontrar, se opondo aos argumentos dos descrentes. Agora, o Caçador de Mistérios é quem diz: "Elementar, meu caro Sherlock Holmes!"
Com o passar dos anos persistiu o mistério. Só alguns fanáticos acreditaram que as fotografias eram de fadas reais, mas o mistério dos detalhes de como (e por quê) elas foram feitas continuou fascinando os estudantes sérios de brincadeiras, fraudes e enganações. Quando as meninas (já adultas) foram entrevistadas, suas respostas eram evasivas. Em uma entrevista da BBC em 1975 Elsie disse: "Eu lhe contei que elas são fotografias de invenções de nossa imaginação e é nisso que vou insistir", e insistindo na autenticidade das fotos, Elsie afirmou que "se você pensar seriamente em alguma coisa ela se tornará sólida, real. Acredito que as fadas eram invenção da nossa imaginação".
Em 1977 Fred Gettings tropeçou em evidência importante enquanto trabalhava em um estudo de ilustrações de livro do começo do século XIX. Ele achou desenhos por Claude A. Shepperson no livro infantil de 1915 que as meninas poderiam ter facilmente possuído, e que eram, sem dúvida, os modelos para as fadas que apareceram nas fotografias.
A ilustração acima era para o poema de Alfred Noyes "Um Feitiço para uma Fada" ("A Spell for a Fairy") em Princess Mary’s Gift Book por Claude Shepperson (Hodder e Stoughton, sem data, c. 1914, pág. 101ff). Compare as poses destas figuras com as de três das fadas na Fotografia Nº1. As figuras foram rearranjadas e detalhes dos vestidos foram alterados, mas a origem das poses é inconfundível.
Um fato curioso é que neste livro, uma compilação de contos e poemas para crianças por vários autores, há uma história, "Bimbashi Joyce" por Arthur Conan Doyle! Contudo ele nunca indicou que sabia que a imagem fonte para as fadas em uma das fotografias estava em um livro para o qual ele tinha contribuído.
Hoje, tanto Elsie quanto Frances já faleceram, mas suas fadas de papel permanecerão eternamente como a extraordinária história real de como duas garotinhas puderam enganar o criador do mais famoso detetive do mundo, demonstrando o enorme poder da fé.
Em relação à credulidade de Conan Doyle, Gilbert Keith Chesterton (escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista britânico – isso tudo!) disse:
"Há tempos me parece que a mentalidade de Sir Arthur é muito mais a de Watson que a de Holmes."
Portanto, fechando este caso antigo: Fadas de Cottingley, MENTIRA! Era apenas uma brincadeira com figuras de papel, confessada pelas primas Elsie Wright e Frances Griffiths em 1980. Eu sou Luiz Ramos, o Caçador de Mistérios! Até mais!
Fonte, Imagens e Textos Originais:
Livro "O Manual do Bruxo - Um Dicionário do Mundo Mágico de Harry Potter"
Google Pesquisas
Google Imagens
Ceticismo Aberto
Wikipedia
Fundação Educacional James Randi
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